quinta-feira, 12 de novembro de 2015

O populismo nosso de cada dia

por Paulo Diniz
(publicado na edição de 08/11/2015 de O Tempo - Belo Horizonte, Minas Gerais)

As eleições presidenciais nos Estados Unidos devem ocorrer em um ano. Porém, o clima político nesse país já é frenético, em parte devido a um acontecimento incomum: o Partido Republicano, em busca da fórmula para voltar ao poder após oito anos, apresentou a seus filiados nada menos do que quinze pré-candidatos para concorrer à Casa Branca. Participam desse confuso grupo de postulantes figuras tradicionais da política dos EUA, como o ex-governador da Flórida Jeb Bush, filho e irmão de ex-presidentes; porém, acabou por despontar um exótico novato, o bilionário Donald Trump.
Chocando o mundo com declarações agressivas e conservadoras, Trump manteve por meses a liderança na preferência dos eleitores republicanos; mesmo perdendo essa posição para o neurocirurgião Ben Carson, analistas locais destacam a pequena vantagem desse sobre Trump, assim como a indecisão de seus apoiadores. Por detrás do fenômeno Donald Trump, está uma dinâmica bastante comum no mundo da política, bem conhecida dos brasileiros: o populismo.
Utilizado por lideranças de todos os matizes ideológicos no século XX, o populismo é caracterizado pela preocupação constante em cativar o eleitor, fazendo da conquista e manutenção do apoio político um fim por si só. Governos e líderes populistas se concentram nas pesquisas de opinião como orientação maior de suas ações e discursos; os projetos que, mesmo impopulares, são necessários, acabam encontrando o fundo de alguma gaveta como destinação final.
Como forma de melhor atingir ao público com sua mensagem sedutora, o líder populista simplifica seu discurso: coloca a si mesmo como referência, falando sempre diretamente com a população; a fala institucional é abandonada, em favor da construção de uma relação pessoal entre o povo e seu líder. Basta ver, nesse sentido, a forma como Donald Trump sempre tem um episódio de sua vida pessoal para contar ao público, servindo como ensinamento para qualquer problema nacional que se esteja discutindo.
O sociólogo alemão Max Weber, um dos maiores nomes desse campo da ciência, descreveu esse tipo de relação como uma “dominação carismática”: se sustenta no estabelecimento de um laço sentimental entre o líder e aqueles que se quer influenciar. Admiração, respeito, amizade ou até amor: são sentimentos fomentados no público pelo líder populista, quando esse se concentra em acompanhar o gosto popular em seus discursos e ações.
A trajetória de sucesso de Donald Trump nos negócios é apresentada ao eleitorado dos EUA como uma sequência de eventos decisivos, nos quais a sagacidade ímpar de seu protagonista foi responsável pelos bons resultados; enfim, o pré-candidato republicano se coloca como um super herói da gestão, dotado da coragem de um caubói de cinema. Esse enredo, típico do início ao fim, é prova de que o populismo não é só um fenômeno internacional, como também continua extremamente atual. Afinal, as metáforas futebolísticas de Lula encontram par até mesmo em um contexto político tão diverso quanto o dos EUA.

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