por Paulo Diniz
(publicado na edição de 08/11/2015 de O Tempo - Belo Horizonte, Minas Gerais)
As
eleições presidenciais nos Estados Unidos devem ocorrer em um ano. Porém, o
clima político nesse país já é frenético, em parte devido a um acontecimento incomum:
o Partido Republicano, em busca da fórmula para voltar ao poder após oito anos,
apresentou a seus filiados nada menos do que quinze pré-candidatos para
concorrer à Casa Branca. Participam desse confuso grupo de postulantes figuras
tradicionais da política dos EUA, como o ex-governador da Flórida Jeb Bush,
filho e irmão de ex-presidentes; porém, acabou por despontar um exótico novato,
o bilionário Donald Trump.
Chocando
o mundo com declarações agressivas e conservadoras, Trump manteve por meses a
liderança na preferência dos eleitores republicanos; mesmo perdendo essa
posição para o neurocirurgião Ben Carson, analistas locais destacam a pequena
vantagem desse sobre Trump, assim como a indecisão de seus apoiadores. Por
detrás do fenômeno Donald Trump, está uma dinâmica bastante comum no mundo da
política, bem conhecida dos brasileiros: o populismo.
Utilizado
por lideranças de todos os matizes ideológicos no século XX, o populismo é
caracterizado pela preocupação constante em cativar o eleitor, fazendo da
conquista e manutenção do apoio político um fim por si só. Governos e líderes
populistas se concentram nas pesquisas de opinião como orientação maior de suas
ações e discursos; os projetos que, mesmo impopulares, são necessários, acabam
encontrando o fundo de alguma gaveta como destinação final.
Como
forma de melhor atingir ao público com sua mensagem sedutora, o líder populista
simplifica seu discurso: coloca a si mesmo como referência, falando sempre
diretamente com a população; a fala institucional é abandonada, em favor da construção
de uma relação pessoal entre o povo e seu líder. Basta ver, nesse sentido, a
forma como Donald Trump sempre tem um episódio de sua vida pessoal para contar
ao público, servindo como ensinamento para qualquer problema nacional que se
esteja discutindo.
O
sociólogo alemão Max Weber, um dos maiores nomes desse campo da ciência,
descreveu esse tipo de relação como uma “dominação carismática”: se sustenta no
estabelecimento de um laço sentimental entre o líder e aqueles que se quer
influenciar. Admiração, respeito, amizade ou até amor: são sentimentos
fomentados no público pelo líder populista, quando esse se concentra em
acompanhar o gosto popular em seus discursos e ações.
A
trajetória de sucesso de Donald Trump nos negócios é apresentada ao eleitorado
dos EUA como uma sequência de eventos decisivos, nos quais a sagacidade ímpar
de seu protagonista foi responsável pelos bons resultados; enfim, o
pré-candidato republicano se coloca como um super herói da gestão, dotado da
coragem de um caubói de cinema. Esse enredo, típico do início ao fim, é prova
de que o populismo não é só um fenômeno internacional, como também continua
extremamente atual. Afinal, as metáforas futebolísticas de Lula encontram par
até mesmo em um contexto político tão diverso quanto o dos EUA.
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