por Paulo Diniz
(publicado na edição de 06/09/2015 de O Tempo - Belo Horizonte, Minas Gerais)
Recentemente,
um grupo de humor brasileiro que atua na internet produziu, com enorme sucesso,
dois vídeos retratando os estereótipos de professores mais comuns no Ensino
Médio; somadas, as visualizações de ambos se aproxima da casa dos dez milhões.
O sucesso desse quadro ilustra o quão sintonizados estavam seus autores com a
mentalidade dos jovens estudantes brasileiros, com o folclore escolar e,
indiretamente, com o que acontece nas salas de aula: após apresentar o rigor
sádico de uma professora da área de exatas e o desleixo de um docente
desmotivado, surge a figura do “professor comunista”, desvelando a culpa eterna
dos Estados Unidos e da grande mídia sobre todas as mazelas nacionais. Mesmo
caricatos, os personagens compõem um retrato aproximado do dia a dia dos
docentes no Brasil que, se por um lado são vítimas da falta de valorização pela
sociedade, por outro são autores de certa cota de abusos.
Contra
o típico “professor comunista”, o deputado federal Rogério Marinho, do PSDB
potiguar, tomou atitude drástica: elaborou o projeto de lei 1.411, que
criminaliza a discussão política em sala de aula. O absurdo da proposta começa
no fato de que essa busca combater fogo com fogo: assim como o
docente-militante, o PL 1.411 também sufoca a capacidade de crítica do aluno,
exatamente na hora em que essa deveria ser estimulada. Cada um à sua forma,
problema e solução se equivalem por impedir o aluno de pensar sobre a realidade
que o cerca.
É
importante perceber como surgiu essa armadilha extremista; mais um exemplo de
como o Estado desempenha papel dominante sobre a sociedade brasileira. Afinal,
incapazes de lidar com a discordância de ideias no campo interpessoal, apelamos
ao Estado como regulador de nossas vidas. Segundo o sociólogo José Murilo de Carvalho,
a forma como o Estado se fez presente na história brasileira foi, muito
frequentemente, apenas como aparato burocrático dissociado de direitos civis ou
políticos garantidos à população. Esse papel dominante e centralizador do
Estado sobre a vida social brasileira fez surgir o conceito de “estadania”, no
lugar da cidadania: a vida do brasileiro é, tradicionalmente, mais sofrida para
quem não possui contato, pessoal e privilegiado, com algum integrante do corpo
de servidores públicos.
No
Uruguai, país com fortes laços históricos em comum com o Brasil, um dilema
semelhante vem ocorrendo: os livros didáticos adotados por muitas escolas vêm
sendo apontados como politicamente tendenciosos, o que despertou debate a
respeito dos critérios existentes para a aprovação oficial desse material.
Assim como no Brasil, não demorou a ganharem coro clamores pelo braço forte do
Estado: proibindo, fiscalizando e, sobretudo, ocupando o espaço do debate e da
construção da autonomia da juventude.
A
situação é cruel por encerrar um círculo vicioso: formar gerações conscientes
de seu papel e capazes de retirar do Estado o protagonismo sobre a vida social
é algo que demanda, justamente, um ambiente escolar que construa autonomia.
Concordo plenamente com você professor!Fica difícil defender nossa opinião.
ResponderExcluir