sábado, 19 de setembro de 2015

Síndicos politizados

por Paulo Diniz
(publicado na edição de 13/09/2015 de O Tempo - Belo Horizonte, Minas Gerais)

Dentro de menos de um ano, estará em andamento o processo eleitoral para a escolha dos governantes nos 5.570 municípios brasileiros. O papel administrativo dos prefeitos costuma ser colocado em primeiro plano, sendo esses muitas vezes descritos como “síndicos” de suas respectivas prefeituras. Ao mesmo tempo, existe a visão que destaca o papel crucial desempenhado pelo prefeito municipal nas eleições estaduais e nacionais no Brasil. Em cidades de todos os tamanhos, mas com maior ênfase nas de menor porte, o posicionamento do prefeito é um referencial decisivo para boa parte da população na hora de escolher governadores e presidentes.
Porém, a conjuntura política brasileira dos últimos anos guarda pouca semelhança com a normalidade da atual democracia brasileira, o que cria expectativas adicionais em relação ao pleito do ano que vem; afinal, em 2016 serão estabelecidas muitas das posições a partir das quais serão disputadas as eleições de 2018. Os principais partidos políticos brasileiros caminham para esse enfrentamento com objetivos bem distintos, integrados em suas estratégias de poder nacionais.
O PMDB, partido que mais vem ganhando poder a partir do enfraquecimento do governo petista, manifestou através de suas lideranças o interesse em expandir sua presença nas grandes cidades e capitais estaduais. Não que o partido se encontre em situação desvantajosa no cenário municipalista, muito pelo contrário: trata-se da legenda que mais comanda prefeituras no Brasil, com 1.019 eleitos em 2012. Porém, para que possa cogitar a empreitada presidencialista que acalenta para 2018, o PMDB não pode estar ausente das capitais, marcando presença nas principais vitrines administrativas e políticas do país. Mais do que votos, assim, o PMDB precisa acumular credibilidade administrativa para oferecer à população; hoje, essa tarefa é desempenhada pelo prefeito do Rio de Janeiro, Eduardo Paes, de forma praticamente solitária.
O PT deve enfrentar o cenário eleitoral mais negativo de sua história em 2016: não só terá que comprovar eficiência administrativa na gerência das prefeituras, como também evitar os efeitos locais do desgaste profundo que atinge o nome do partido. A dúvida mais comum nas campanhas municipais se refere à contaminação dessas por temas de âmbito nacional; esse questionamento deve afligir aos estrategistas do PT, que terão sucesso se oferecerem mais “síndicos” e menos políticos ao eleitorado das cidades.
O PSDB, por sua vez, deve ter em Minas Gerais seu alvo principal se pretende obter ganho político a partir da derrocada do PT nacional. Não apenas Minas é o estado com o maior número de municípios do país, 853, como também foi onde os tucanos mais perderam espaço em 2014. Reconstruir a rede de prefeitos que dava suporte à plataforma tucana de governo em Minas vai exigir do PSDB um esforço colossal: sem o controle da burocracia estadual, a habilidade para se compor forças, conjugar interesses distintos e, sobretudo, negociar, será posta à prova em 2016.

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