por Paulo Diniz
(publicado na edição de 20/09/2015 de O Tempo - Belo Horizonte, Minas Gerais)
O
drama dos refugiados sírios, que buscam chegar aos países mais ricos da Europa,
tem atraído a atenção de todo o mundo. Entretanto, mesmo as dimensões dessa
tragédia humanitária não são capazes de refletir a gravidade da situação que
aflige hoje a Síria. É tamanho o número de forças e interesses envolvidos nesse
país, que se torna muito difícil prever quando ou como os enfrentamentos podem ter
fim.
Começando
pelo fato mais recente: o engajamento militar da Turquia, compondo a força
aérea multinacional, liderada pelos Estados Unidos, e também enviando tropas
terrestres para ações pontuais. Além de colaborar no combate aos extremistas do
Estado Islâmico, os turcos trouxeram ao campo de batalha sírio mais um
complicador político do que uma ajuda militar: realizam também ataques às
forças curdas, principais antagonistas do EI, mas que já mantinham um
enfrentamento armado em relação à Turquia há alguns anos, pois lutam pelo
estabelecimento do Curdistão independente, cujo território incluiria algumas
províncias turcas. Essa relação traz ainda outro agravante: nas últimas
eleições gerais, em junho passado, poderoso presidente turco Recep Erdogan
sofreu uma considerável derrota nas urnas, principalmente devido à expansão
nacional de um partido de origem curda, que o impediu de construir a maioria
parlamentar que desejava. Sendo a Turquia um regime parlamentarista, a ausência
de maioria parlamentar, ou de uma coalizão que cumpra esse papel, demanda a
realização de um novo pleito, previsto para novembro. Nesse ambiente tenso, o
presidente turco busca atacar os curdos da Síria como forma de influenciar o
cenário eleitoral de seu país, pintando tal povo como inimigo da nação e,
assim, afastando votos do novo partido que centraliza a oposição a seu regime.
Não
bastasse abrigar rivalidades eleitorais, o conflito sírio também envolve a
crescente oposição entre Estados Unidos e Rússia, no melhor estilo da antiga
Guerra Fria. Os norte-americanos fornecem material militar, treinamento e apoio
aéreo efetivo a grupos moderados voltados a derrubar o governo de Bashar al
Assad. Já os russos têm investido pesadamente na manutenção do regime de Assad,
não apenas fornecendo material militar em grande escala ao governo, como também
colocando no campo de batalha algumas de suas próprias tropas de combate, de
acordo com relatos frequentes dos demais envolvidos na guerra.
Outra
complexa relação que contamina os acontecimentos na Síria envolve a intensa
movimentação do Irã, em busca de se tornar um protagonista político do mundo
islâmico. O governo de Teerã não apenas
financia diretamente a sobrevivência de Assad, como também participa
indiretamente de combates através da milícia libanesa Hezbollah, à qual
direciona recursos há vários anos.
Apesar
de todos esses países terem sofrido de alguma forma os efeitos prejudiciais da
instabilidade política que tomou conta do Iraque depois de 2003, agora
contribuem, com sua atuação na Síria, para reproduzir o mesmo cenário de caos
nacional.
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