quarta-feira, 18 de junho de 2014

Uma conta simples

por Paulo Diniz
(publicado na edição de 17/06/2014 de O Tempo - Belo Horizonte, Minas Gerais)

Pesquisas eleitorais sobre a disputa para a Presidência da República têm sido divulgadas com frequência quinzenal, colocando os nervos das equipes de campanha à flor da pele. Apesar da complexidade da elaboração desses levantamentos, seus resultados contém elementos que são quase constantes, o que torna possíveis algumas previsões.
Considerando a soma final dos votos, no cenário de polarização dos últimos pleitos, verifica-se percentuais mínimos de 30% para o candidato do PT e 40% para o candidato do PSDB. A julgar pelo quão invariáveis têm sido tais números, temos que esses não indicam a aprovação aos candidatos da vez, mas sim aos dois principais partidos do Brasil. É fato que o sistema partidário brasileiro é marcado por seu baixo conteúdo programático, porém a polarização que têm assumido PT e PSDB produz apelo à rivalidade entre esquerda e direita; essa sim, bastante viva na cultura política brasileira.
É importante destacar, como exemplo, que mesmo a insossa campanha do tucano Geraldo Alckmin em 2006 distanciou-se pouco do patamar mínimo da votação tradicional do PSDB: computou, ao final do segundo turno, 39,17% dos votos válidos, mesmo tendo como oponente um Lula catapultado pelos bons resultados da economia. No mesmo sentido, nas derrotas que o líder petista sofreu para Fernando Henrique Cardoso em 1994 e 1998, ambas em primeiro turno, Lula sempre se manteve próximo à casa de 30% dos votos válidos. Agregando eleitores como torcidas de futebol rivais, PT e PSDB acabam por disputar, de fato entre si, a preferência de uma fração de apenas 30% do eleitorado; trata-se daqueles que não se orientam pela polarização entre os dois partidos.
Em 2014, um fator que poderia interferir nessa disputa seria a consolidação de uma terceira candidatura, porém, essa perspectiva ainda não dá sinais de viabilidade. É preciso destacar, também, a presença de um grande número de candidatos de partidos de menor expressão. De acordo com a última pesquisa divulgada, a soma dessas nove candidaturas alcançava o total de 9% de intenções de voto, sinal de que o eleitorado não-polarizado pode vir a dispersar sua preferência entre vários candidatos diferentes. Representantes de movimentos religiosos ou facções políticas extremas, tais candidatos buscam mesmo atrair votos para seus partidos, aumentado suas bancadas parlamentares. Entretanto, ao agregar contingentes de eleitores, esses candidatos à Presidência acabam por reduzir a margem de eleitores a ser disputada entre Aécio e Dilma, deixando-os mais próximos dos patamares mínimos de apoio da população a seus partidos.
Concentrar o esforço eleitoral sobre o público que tanto pode votar em Dilma quanto em Aécio deve ser uma opção capaz de gerar não apenas melhores resultados nas urnas, como também uma campanha mais propositiva. Em 2014, o candidato com maiores chances de sucesso deverá ser aquele que mais se empenhar no convencimento dos 30% não-dogmáticos do eleitorado, utilizando argumentos e deixando de atacar seu oponente.

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