(publicado na edição de 03/06/2014 de O Tempo - Belo Horizonte, Minas Gerais)
Faltando
pouco mais de um mês para o início do período eleitoral, nenhum dos
pré-candidatos à Presidência aguarda o prazo oficial do TSE para iniciar campanha:
buscam se expor ao máximo, testando a tolerância do Judiciário. A partir desses
movimentos, é possível antever as estratégias que deverão ser utilizadas a
partir de julho. Nesse sentido, se destaca negativamente Dilma Rousseff, por
cometer erros graves no meio político brasileiro.
O
primeiro é a forma como a presidente aborda o dilema federativo brasileiro. O
papel do prefeito como um dos principais cabos eleitorais do Brasil é
indiscutível, tanto nos pequenos quanto nos grandes centros urbanos: quando não
é influenciado pela escolha pessoal do administrador da cidade onde vive, o
eleitor frequentemente considera ser útil que os governantes de sua cidade e do
país sejam aliados políticos, como forma de se facilitar a atração de recursos
federais. Conquistar a adesão de prefeitos significa obter votos de maneira consistente.
Nas edições 2012 e 2013 da "Marcha a Brasília em defesa dos municípios",
maior encontro de prefeitos do país, Dilma foi vaiada por mais de 4000
participantes ao negar discutir a fórmula de partilha de recursos fiscais, que
privilegia o Governo Federal. Já em 2014, a presidente simplesmente não
compareceu ao evento, perdendo uma oportunidade de se redimir da má impressão
causada nos anos anteriores. Dilma deixou aberto o campo para Aécio Neves oferecer
aos prefeitos exatamente o que eles mais precisam e querem: a redefinição do
pacto federativo brasileiro.
Outro
aspecto negativo é a
insistência em tentar associar a candidatura da oposição ao período de governo
de FHC, algo que não deve gerar resultados: inicialmente, faz referência a época
já distante no tempo, mesmo para quem a vivenciou; depois, porque não encontra eco
no discurso de Aécio Neves. Esse desencontro favorece imensamente ao tucano,
que pode atacar problemas concretos vivenciados pela população, enquanto a
petista promete caçar fantasmas que pouco significam na vida diária das
pessoas. Dilma permite que Aécio ataque sem precisar se defender, já que não há
correspondência entre o que a petista diz e o que o tucano aparenta ser.
Por
fim, é preciso destacar a retomada do discurso do medo pela campanha petista. A
imagem clássica do fracasso de José Serra em 2002 foi produzida pela atriz
Regina Duarte, em emocionado discurso, declarando seu medo em relação a uma vitória
de Lula. O que estava em pauta, então, não eram sentimentos, mas conjuntos
distintos de propostas: uma agenda de estabilização e reformas que já havia cumprido
seu papel na década de 1990, e um discurso de priorização de benefícios sociais
que ainda era inédito. Hoje, o país passa por momento semelhante, no qual há
forte demanda pela renovação da agenda pública, de forma que é bem provável que
o eleitorado não se acovarde diante dos temores que o PT busca suscitar.
Surpreende, assim, a eficiência de Dilma no cumprimento da tarefa de perder uma
eleição.
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