terça-feira, 3 de junho de 2014

Como perder uma eleição

por Paulo Diniz
(publicado na edição de 03/06/2014 de O Tempo - Belo Horizonte, Minas Gerais)



Faltando pouco mais de um mês para o início do período eleitoral, nenhum dos pré-candidatos à Presidência aguarda o prazo oficial do TSE para iniciar campanha: buscam se expor ao máximo, testando a tolerância do Judiciário. A partir desses movimentos, é possível antever as estratégias que deverão ser utilizadas a partir de julho. Nesse sentido, se destaca negativamente Dilma Rousseff, por cometer erros graves no meio político brasileiro.
O primeiro é a forma como a presidente aborda o dilema federativo brasileiro. O papel do prefeito como um dos principais cabos eleitorais do Brasil é indiscutível, tanto nos pequenos quanto nos grandes centros urbanos: quando não é influenciado pela escolha pessoal do administrador da cidade onde vive, o eleitor frequentemente considera ser útil que os governantes de sua cidade e do país sejam aliados políticos, como forma de se facilitar a atração de recursos federais. Conquistar a adesão de prefeitos significa obter votos de maneira consistente. Nas edições 2012 e 2013 da "Marcha a Brasília em defesa dos municípios", maior encontro de prefeitos do país, Dilma foi vaiada por mais de 4000 participantes ao negar discutir a fórmula de partilha de recursos fiscais, que privilegia o Governo Federal. Já em 2014, a presidente simplesmente não compareceu ao evento, perdendo uma oportunidade de se redimir da má impressão causada nos anos anteriores. Dilma deixou aberto o campo para Aécio Neves oferecer aos prefeitos exatamente o que eles mais precisam e querem: a redefinição do pacto federativo brasileiro.
Outro aspecto negativo é a insistência em tentar associar a candidatura da oposição ao período de governo de FHC, algo que não deve gerar resultados: inicialmente, faz referência a época já distante no tempo, mesmo para quem a vivenciou; depois, porque não encontra eco no discurso de Aécio Neves. Esse desencontro favorece imensamente ao tucano, que pode atacar problemas concretos vivenciados pela população, enquanto a petista promete caçar fantasmas que pouco significam na vida diária das pessoas. Dilma permite que Aécio ataque sem precisar se defender, já que não há correspondência entre o que a petista diz e o que o tucano aparenta ser.
Por fim, é preciso destacar a retomada do discurso do medo pela campanha petista. A imagem clássica do fracasso de José Serra em 2002 foi produzida pela atriz Regina Duarte, em emocionado discurso, declarando seu medo em relação a uma vitória de Lula. O que estava em pauta, então, não eram sentimentos, mas conjuntos distintos de propostas: uma agenda de estabilização e reformas que já havia cumprido seu papel na década de 1990, e um discurso de priorização de benefícios sociais que ainda era inédito. Hoje, o país passa por momento semelhante, no qual há forte demanda pela renovação da agenda pública, de forma que é bem provável que o eleitorado não se acovarde diante dos temores que o PT busca suscitar. Surpreende, assim, a eficiência de Dilma no cumprimento da tarefa de perder uma eleição.

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