por Paulo Diniz
(publicado na edição de 03/01/2014 de O Tempo - Belo Horizonte, Minas Gerais)
O debate sobre a reforma política, que
movimentou esperanças no Brasil em 2013, tem partido de uma premissa limitada:
a qualidade da democracia está baseada nas regras que organizam o sistema
político. Tal relação existe, porém o problema brasileiro está mais relacionado
com as características de nossa população: baixo nível educacional, aliado a
uma curta experiência de democracia, fazem com que a maioria dos brasileiros
limite seu conceito de democracia ao ato de votar.
Pouco valorizada no Brasil, a vivência
partidária é um elemento crucial para a democracia. Em países com longas
tradições democráticas, é no interior dos partidos que ocorrem os debates
diretos entre lideranças e eleitores, construindo os consensos e as plataformas
eleitorais. Também dessas discussões, acessíveis a todos, emergem as lideranças
partidárias que compõem a lista de candidatos do partido, ordenada de forma a
indicar a precedência que alguns filiados têm sobre os demais, na distribuição
das cadeiras parlamentares obtidas pelo partido nas eleições. Trata-se da
“lista fechada” de candidatos, muito comum pelo mundo, e objeto do desejo de
vários políticos envolvidos na reforma política brasileira.
O contexto nacional, marcado pelo nível
insignificante de participação popular na vida partidária, definitivamente não
comporta um instrumento como a “lista fechada”: se adotada, essa seria
elaborada apenas pelas lideranças tradicionais de cada agremiação política, de
forma isolada e pouco democrática. O voto do eleitor serviria apenas para
referendar os interesses das lideranças partidárias estabelecidas, blindando o
acesso de novos nomes à cena política.
Já no sistema de “lista aberta”, vigente
no Brasil, a ordem na qual os candidatos de um partido podem assumir vaga no
parlamento é definida pelo número de votos que cada um obteve. Prevalece a
vontade popular, se não expressa nos debates partidários, certamente no
resultado das urnas. Se esse mecanismo confere poder a pessoas
descompromissadas com o interesse público, a origem do problema se encontra nos
critérios de escolha da população, e não no arcabouço institucional que
reproduziu o gosto da maioria.
O aperfeiçoamento da política brasileira
passa pelo enriquecimento de nossa cultura política, que parte de investimentos
educacionais de grande porte. Soluções simplistas como a adoção da “lista
fechada” para eleições parlamentares, não só contornam o real dilema da
democracia brasileira, como também contribuem para elitizar o processo
eleitoral, concentrando poder nas lideranças partidárias atuais, principais
interessadas nessa mudança.
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