sábado, 4 de janeiro de 2014

Casamento de conveniência

por Paulo Diniz
(publicado na edição de 12/01/2014 de O Tempo - Belo Horizonte, Minas Gerais -, na edição de 11/01/2014 do Bocaiúva em Notícias - Bocaiúva, Minas Gerais -, na edição de 03/01/2014 do Jornal de Uberaba - Uberaba, Minas Gerais - e na edição de 04/01/2014 do Correio do Sul - Varginha, Minas Gerais)
Outubro passado foi marcado pela surpreendente aliança entre Eduardo Campos e Marina Silva, com vistas às eleições presidenciais. Enquanto a dúvida principal era relativa a quem encabeçaria a chapa, pouco se discutiu a respeito da forma como iria se desenvolver a relação entre os dois no decorrer da campanha.
Essa aliança traz um potencial enorme de alterar o panorama nacional, marcado pela polarização entre PSDB e PT. Marina tende a absorver boa parte da esperança dos jovens que tomaram as ruas em junho, uma vez que seu discurso em 2010 adiantava boa parte dos slogans populares de 2013. Já Eduardo Campos comanda uma das estruturas partidárias que mais cresceu no Brasil dos últimos anos, sobretudo nas regiões Norte e Nordeste; em Pernambuco, estado que governa, exerce um domínio eleitoral forte o suficiente para tornar desprezível a presença do PT na região, o que se comprovou nas eleições municipais de 2012. Os pontos fortes de Marina e Eduardo atingem a plataforma do PT de maneira inédita, reduzindo seu apoio junto à juventude e à população atendida pelos benefícios sociais do governo.
O potencial de Marina e Eduardo para alterar o equilíbrio de 2014, por mais que tenha animado a vários setores da oposição, não anula os desafios que ambos ainda têm pela frente: a dificuldade de se manter a coesão da nova aliança, e os pequenos índices de preferência do eleitorado que apresentam nas pesquisas.
A definição de quem será o candidato à Presidência é crucial, uma vez que um vice-presidente dificilmente cumpre uma plataforma própria de governo. É pouco provável que o público de Marina – jovem e ávido por mudanças – vote em Campos para ver realizadas suas expectativas. Já a máquina partidária de Campos, porque lastreada em governos estaduais, é mais disciplinada, podendo acompanha-lo com fidelidade caso esse assuma a candidatura à vice-presidência. A grande questão é se Eduardo Campos aceitaria tal posição.
Além da definição de lugares, é preciso também considerar que ambos os pré-candidatos devem estabelecer uma fórmula de convívio, antes de encarar o eleitor. Está claro que concordam em relação a uma agenda negativa, que os opõe à administração federal petista. Porém, sobram diferenças no que tange aos objetivos de cada um; a construção de um “alinhamento programático”, anunciada por Marina no dia da aliança, ainda não avançou. É provável que o impasse ocorra devido à dificuldade de conciliação entre as visões de um grupo que pretende conquistar a preferência da classe média das regiões Sudeste e Sul, e outro que busca nada menos do que refundar a política brasileira desde suas bases.
Considerando que Eduardo Campos acaba de somar a importante adesão do PPS nacional, fica clara a urgência de se construir uma base sólida de trabalho. Como nos casamentos por conveniência, da ficção e da realidade, a etapa mais complexa não é a união de interesses inicial, mas sim a manutenção da relação no dia a dia, quando os menores desgastes assumem grandes proporções.


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