por Paulo Diniz
(publicado na edição de 12/01/2014 de O Tempo - Belo Horizonte, Minas Gerais -, na edição de 11/01/2014 do Bocaiúva em Notícias - Bocaiúva, Minas Gerais -, na edição de 03/01/2014 do Jornal de Uberaba - Uberaba, Minas Gerais - e na edição de 04/01/2014 do Correio do Sul - Varginha, Minas Gerais)
Outubro
passado foi marcado pela surpreendente aliança entre Eduardo Campos e Marina
Silva, com vistas às eleições presidenciais. Enquanto a dúvida principal era
relativa a quem encabeçaria a chapa, pouco se discutiu a respeito da forma como
iria se desenvolver a relação entre os dois no decorrer da campanha.
Essa aliança
traz um potencial enorme de alterar o panorama nacional, marcado pela polarização
entre PSDB e PT. Marina tende a absorver boa parte da esperança dos jovens que
tomaram as ruas em junho, uma vez que seu discurso em 2010 adiantava boa parte
dos slogans populares de 2013. Já Eduardo Campos comanda uma das estruturas
partidárias que mais cresceu no Brasil dos últimos anos, sobretudo nas regiões
Norte e Nordeste; em Pernambuco, estado que governa, exerce um domínio eleitoral
forte o suficiente para tornar desprezível a presença do PT na região, o que se
comprovou nas eleições municipais de 2012. Os pontos fortes de Marina e Eduardo
atingem a plataforma do PT de maneira inédita, reduzindo seu apoio junto à
juventude e à população atendida pelos benefícios sociais do governo.
O potencial de
Marina e Eduardo para alterar o equilíbrio de 2014, por mais que tenha animado
a vários setores da oposição, não anula os desafios que ambos ainda têm pela
frente: a dificuldade de se manter a coesão da nova aliança, e os pequenos
índices de preferência do eleitorado que apresentam nas pesquisas.
A definição
de quem será o candidato à Presidência é crucial, uma vez que um
vice-presidente dificilmente cumpre uma plataforma própria de governo. É pouco
provável que o público de Marina – jovem e ávido por mudanças – vote em Campos
para ver realizadas suas expectativas. Já a máquina partidária de Campos,
porque lastreada em governos estaduais, é mais disciplinada, podendo
acompanha-lo com fidelidade caso esse assuma a candidatura à vice-presidência.
A grande questão é se Eduardo Campos aceitaria tal posição.
Além da
definição de lugares, é preciso também considerar que ambos os pré-candidatos
devem estabelecer uma fórmula de convívio, antes de encarar o eleitor. Está
claro que concordam em relação a uma agenda negativa, que os opõe à
administração federal petista. Porém, sobram diferenças no que tange aos
objetivos de cada um; a construção de um “alinhamento programático”, anunciada
por Marina no dia da aliança, ainda não avançou. É provável que o impasse
ocorra devido à dificuldade de conciliação entre as visões de um grupo que
pretende conquistar a preferência da classe média das regiões Sudeste e Sul, e
outro que busca nada menos do que refundar a política brasileira desde suas
bases.
Considerando
que Eduardo Campos acaba de somar a importante adesão do PPS nacional, fica
clara a urgência de se construir uma base sólida de trabalho. Como nos
casamentos por conveniência, da ficção e da realidade, a etapa mais complexa
não é a união de interesses inicial, mas sim a manutenção da relação no dia a
dia, quando os menores desgastes assumem grandes proporções.
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