por Paulo Diniz
(publicado na edção de 19/04/2012 do Correio do Sul - Varginha, Minas Gerais)
O mês de abril tem dois
dias emblemáticos para a democracia brasileira, o primeiro e o vigésimo
primeiro. A forma como lidamos com eles, e com seus respectivos legados, diz
muito a respeito do civismo das novas gerações de nosso povo. Nesse sentido, acontecimentos
recentes têm mostrado sinais preocupantes.
Em 1º de abril de 1964, teve início mais uma
ditadura no conturbado período republicano brasileiro. Os autores de tal
mudança política preferiram, para agregar respeitabilidade, que a data oficial
do golpe de Estado fosse registrada como 31 de março, e foi nesse dia do
corrente ano, que alguns dos militares envolvidos no golpe decidiram realizar
no Rio de Janeiro uma cerimônia comemorativa pelos 48 anos de seu feito. Não
bastasse a infâmia de tal celebração, ainda foram confrontados por
manifestantes que, furiosos, entraram em confronto com a polícia na
tentativa de responder com igual demonstração de radicalismo político à
comemoração dos militares.
Triste
cenário, em sua completude: em pleno ano de 2012, centenas de pessoas se agridem
em praça pública, sustentando a fantasia de que ainda vivem em 1964. De tal
passado triste, devemos apenas guardar as lições, que apontam no sentido da
tolerância, convivência, debate e negociação. Representantes de ambos os
extremos do espectro político brasileiro, demonstram claro desejo de alienação
em relação ao mundo complexo em que hoje vivemos. Amedrontados com o século
XXI, buscam refúgio em um passado romântico, no qual duelavam “mocinhos e
bandidos”.
Poderíamos
chamar tal tendência “Efeito Bolsonaro”, em referência ao deputado federal que
ganha cada vez mais notoriedade extravasando opiniões extremadas. Porém, o nome
não faria jus à realidade completa, pois tal exagero seria apenas caricato se
não fosse sempre rebatido pelo extremismo esquerdista, tão raivoso e estridente
quanto o dos adeptos da finada ditadura militar. Ganham ambos, com tal
confronto coreografado, pois podem posar como defensores de seus ideais “puros”;
perde o Brasil, com o empobrecimento do debate político nacional, imerso no
simplismo de ideologias já há muito superadas pela realidade do mundo
contemporâneo. Tentar viver no passado, simplesmente, não é uma opção.
O dia 21 de
abril, por outro lado, representa o oposto exato: nele são lembrados o mártir
da Inconfidência, Tiradentes, e um dos principais articuladores do
desmantelamento da ditadura militar, o mineiro Tancredo Neves. Avesso ao
confronto e à violência, Tancredo atravessou o período de repressão política
como opositor do regime imposto pelos militares, atuando às claras e tendo por
armas apenas o diálogo e o profundo desejo de construir o consenso. Ao final,
obteve o sucesso de uma transição política pacífica, base sólida para a
democracia que vem sendo reconstruída desde então. Sucumbindo ao esforço
extremo e continuado, Tancredo faleceu em 21 de abril de 1985, já eleito presidente.
É a esse verdadeiro herói, e principalmente a seu espírito de paz e
entendimento, que devemos as mais profundas manifestações de admiração, orgulho
e inspiração para o futuro.
Nenhum comentário:
Postar um comentário