por Paulo Diniz
(publicado na edição de 26/04/2012 do Tempo - Belo Horizonte, Minas Gerais -, na edição de 12/04/2012 da Tribuna de Minas - Juiz de Fora, Minas Gerais -, na edição de 10/04/2012 do Correio do Sul - Varginha, Minas Gerais -, na edição de 11/04/2012 do Jornal de Uberaba - Uberaba, Minas Gerais - e na edição de 03/05/2012 do Hoje em Dia - Belo Horizonte, Minas Gerais)
Jornalistas
estrangeiros que acompanham os acontecimentos do Brasil devem encontrar dificuldade
para traduzir as sutilezas da língua portuguesa e da vida em nosso país. Quando
o assunto é política, a dificuldade deve ser ainda maior: em 2004, a revista norte-americana
Time passou por tal dilema ao descrever o pivô do primeiro escândalo do Governo
Lula; optou pela tradução literal, tratando o personagem por “Charlie
Waterfall” (ou seja, Carlinhos Cachoeira).
Quando ganhou
destaque no noticiário pela primeira vez, o bicheiro goiano Carlos Augusto
Ramos – nome de batismo – divulgava haver sofrido extorsão dois anos antes por
parte de Waldomiro Diniz, que havia se tornado Subchefe de Assuntos
Parlamentares da Presidência da República com o início do Governo Lula. Os recursos,
segundo o bicheiro, deveriam financiar campanhas do PT, porém esse não
mencionava que, como retribuição, receberia facilidades em licitações do
governo. Passado o impacto inicial, vieram os desmentidos e a exoneração de
praxe, perdendo-se no vazio muitas perguntas sobre a profundidade das relações
entre esses personagens. Apesar de Waldomiro ter sido alvo de um processo, nada
mais se falou sobre Cachoeira.
Passados oito
anos, ressurge em grande estilo “Charlie Waterfall”, desta feita, íntimo de um
senador do Democratas – esteio moral da oposição – o também goiano Demóstenes
Torres. Ainda está sendo descoberta a natureza dos negócios realizados por Cachoeira,
mas sabe-se que ele centralizava uma rede de informações sobre atividades
policiais e parlamentares, sem que esteja claro o uso dado a tais informações.
O que importa
perceber, inicialmente, é que o ecletismo político de Cachoeira parece não ter
limites: vai do PT ao Democratas, do núcleo do governo à liderança da oposição.
Também é importante destacar que sua reincidência em negócios escusos indica
total impunidade, e a permanência junto ao meio político é sinal de uma aposta
– que se mostrou acertada – na falta de valores que permeia esse ambiente. São
fatos demasiado evidentes para serem ignorados, reforçando o antigo clichê
segundo o qual não basta punir os corruptos, é preciso anular os corruptores.
Nesse
contexto, não é saudável para a democracia brasileira que seus partidos e
homens públicos façam uso político de escândalos como o de Carlinhos Cachoeira.
Tais ocorrências não são exclusividade de nenhuma corrente partidária e,
diferente do que se acredita no meio político nacional, o erro de alguns não
inocenta o dos outros; pelo contrário, os potencializa. Quando apontam o
malfeito alheio com o intuito de diminuir o adversário, os políticos
brasileiros acabam tirando de cena o personagem principal, o corruptor, eterno
inventor de “esquemas” e explorador das brechas da Lei. Enquanto os partidos se
acusam irracionalmente, rebatendo acusações com outras acusações, os “Charlies”
saem discretamente de cena, para continuar a agir nas sombras, recrutando
homens públicos de caráter fraco. Definitivamente, não é com esse “ímpeto
destruidor” que se constroem condutas éticas na política.
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