terça-feira, 17 de janeiro de 2017

Convergência: alguém ainda se lembra?

por Paulo Diniz
(publicado na edição de 08/01/2017 de O Tempo - Belo Horizonte, Minas Gerais)

Terminado seu mandato como prefeito, Márcio Lacerda segue para um ano de descanso e articulações de bastidores, preparação para um 2018 que será intenso. Em entrevistas recentes, Lacerda fez um balanço de seus erros e acertos administrativos, traçando um quadro fiscal relativamente positivo. De forma incomum, fez também especulações sobre seu futuro político, chegando a se posicionar como pré-candidato ao governo mineiro, mas evitando ao máximo comentar as recorrentes especulações de imprensa paulista que o colocam em uma chapa presidencial liderada por Geraldo Alckmin. O futuro de Lacerda, assim, tem pouca semelhança com seu passado, especialmente com sua chegada ao poder.
Pouco conhecido na política, Lacerda se viu em 2008 como centro das atenções nacionais: seu nome representava a “convergência”, palavra que ecoou com estardalhaço e gerou esperanças. Em torno da plataforma de Lacerda, se alinhavam duas das principais lideranças políticas de Minas Gerais: o então governador Aécio Neves, do PSDB, e o petista Fernando Pimentel, que encerrava seu mandato como prefeito de Belo Horizonte. Tratava-se de dois nomes jovens em seus respectivos partidos, que prometiam a superação das rivalidades partidárias em favor dos bons projetos públicos. Lacerda, filiado ao PSB, encarnava então essa possibilidade de confluência entre os partidos que mais antagonizavam a política brasileira.
Pimentel e Aécio, lançando a proposta de convergência em 2008, deixavam claro que não miravam em projetos pessoais, mas sim em uma nova etapa para a política nacional. Nesse sentido, é difícil imaginar um cenário mais positivo: os dois partidos nacionais melhor dotados de quadros técnicos e densidade ideológica, somam esforços e deixam de lado alguns dogmas da política brasileira tradicional. É fato que Aécio pretendia ser presidente do Brasil, enquanto Pimentel almejava ao governo mineiro, porém nesse momento, a convergência fazia com que essas perspectivas parecerem meros detalhes técnicos, que seriam positivos para todos.
Nesse ano, assim, as urnas deram a vitória a Márcio Lacerda e uma chance à proposta de convergência política. A gestão que se seguiu foi tensa, com espaços bem delimitados para cada corrente política e nenhuma convergência administrativa digna de nota. No pleito seguinte, o PT municipal rompe com Lacerda e é derrotado por esse já no primeiro turno, enquanto em 2016 foi a vez dos tucanos desembarcarem da coalizão governista.
Quanto aos propositores da convergência, Aécio perdeu sua melhor chance de alcançar o Palácio do Planalto devido à derrota sofrida em Minas em 2014; deixou de convergir, afinal, com seu próprio eleitorado. Pimentel, vitorioso nas urnas, acumula uma incrível sucessão de pendências com a justiça, algo que ameaça seu futuro a ponto de o tornar um verdadeiro fantasma na política mineira. O tempo mostrou, afinal, que cada um seguiu seu caminho, e a celebrada convergência entrou para a história com todo jeito de ter sido só mais uma aliança de ocasião.

Nenhum comentário:

Postar um comentário