por Paulo Diniz
(publicado na edição de 08/01/2017 de O Tempo - Belo Horizonte, Minas Gerais)
Terminado
seu mandato como prefeito, Márcio Lacerda segue para um ano de descanso e
articulações de bastidores, preparação para um 2018 que será intenso. Em
entrevistas recentes, Lacerda fez um balanço de seus erros e acertos
administrativos, traçando um quadro fiscal relativamente positivo. De forma
incomum, fez também especulações sobre seu futuro político, chegando a se
posicionar como pré-candidato ao governo mineiro, mas evitando ao máximo
comentar as recorrentes especulações de imprensa paulista que o colocam em uma
chapa presidencial liderada por Geraldo Alckmin. O futuro de Lacerda, assim,
tem pouca semelhança com seu passado, especialmente com sua chegada ao poder.
Pouco
conhecido na política, Lacerda se viu em 2008 como centro das atenções
nacionais: seu nome representava a “convergência”, palavra que ecoou com
estardalhaço e gerou esperanças. Em torno da plataforma de Lacerda, se
alinhavam duas das principais lideranças políticas de Minas Gerais: o então
governador Aécio Neves, do PSDB, e o petista Fernando Pimentel, que encerrava
seu mandato como prefeito de Belo Horizonte. Tratava-se de dois nomes jovens em
seus respectivos partidos, que prometiam a superação das rivalidades
partidárias em favor dos bons projetos públicos. Lacerda, filiado ao PSB,
encarnava então essa possibilidade de confluência entre os partidos que mais
antagonizavam a política brasileira.
Pimentel
e Aécio, lançando a proposta de convergência em 2008, deixavam claro que não
miravam em projetos pessoais, mas sim em uma nova etapa para a política
nacional. Nesse sentido, é difícil imaginar um cenário mais positivo: os dois
partidos nacionais melhor dotados de quadros técnicos e densidade ideológica,
somam esforços e deixam de lado alguns dogmas da política brasileira
tradicional. É fato que Aécio pretendia ser presidente do Brasil, enquanto
Pimentel almejava ao governo mineiro, porém nesse momento, a convergência fazia
com que essas perspectivas parecerem meros detalhes técnicos, que seriam
positivos para todos.
Nesse
ano, assim, as urnas deram a vitória a Márcio Lacerda e uma chance à proposta
de convergência política. A gestão que se seguiu foi tensa, com espaços bem
delimitados para cada corrente política e nenhuma convergência administrativa
digna de nota. No pleito seguinte, o PT municipal rompe com Lacerda e é
derrotado por esse já no primeiro turno, enquanto em 2016 foi a vez dos tucanos
desembarcarem da coalizão governista.
Quanto
aos propositores da convergência, Aécio perdeu sua melhor chance de alcançar o
Palácio do Planalto devido à derrota sofrida em Minas em 2014; deixou de
convergir, afinal, com seu próprio eleitorado. Pimentel, vitorioso nas urnas,
acumula uma incrível sucessão de pendências com a justiça, algo que ameaça seu
futuro a ponto de o tornar um verdadeiro fantasma na política mineira. O tempo
mostrou, afinal, que cada um seguiu seu caminho, e a celebrada convergência
entrou para a história com todo jeito de ter sido só mais uma aliança de
ocasião.
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