quinta-feira, 14 de janeiro de 2016

Quem dá as cartas?

por Paulo Diniz
(publicado na edição de 10/01/2016 de O Tempo - Belo Horizonte, Minas Gerais)

Diferente da tradição acumulada desde 1822, a atuação brasileira no campo da política internacional tem sido marcada em anos recentes por rompantes e incoerências. O caso do momento envolve o Estado de Israel, cujo embaixador nomeado para representa-lo Brasília vem sendo recusado desde agosto passado, não diretamente pela administração de Dilma Rousseff, mas por movimentos sociais ligados ao governo. O motivo da discórdia é a indicação, para chefiar a embaixada de Israel, de Dani Dayan, que entre 2007 e 2013 presidiu a maior associação de assentamentos israelenses em territórios ocupados aos palestinos; a comunidade internacional, em sua maioria, considera ilegal tal colonização e defende a devolução dessas terras.
Quando se trata dos assentamentos israelenses, o Brasil faz coro a diversos outros países em sua crítica ao governo de Israel, o que torna nossa postura política não só legítima como também comum. O que ultrapassa os limites da lógica, assim, não é o conteúdo do posicionamento nacional, mas sim a maneira como o Brasil define e coloca em prática sua política externa. A indicação de Dayan foi vetada não apenas pela discordância em relação aos assentamentos, mas principalmente sob a justificativa de que o nome do novo embaixador israelense foi considerado inaceitável por movimentos sociais como o MST e a CUT. Supondo que tais organizações tenham apenas se voluntariado para aparecer como responsáveis pela decisão, a administração de Dilma Rousseff faz má figura na política internacional: a política externa do governo petista transmitiria a imagem de fraqueza da presidente, uma vez que essa não teria forças diante da negativa desses movimentos sociais.
Outra interpretação possível, que não leva em conta a hipótese da força dos movimentos sociais, deixa no ar uma pergunta: por quê, então, não poderia a presidente assumir seus próprios posicionamentos, colocando-os como a vontade soberana de um governo democraticamente eleito? Mais uma vez, portanto, transmitimos uma imagem de fraqueza e inconstância, reforçada pelo próprio fato de que quem mais tem atendido à imprensa, para esclarecer sobre o assunto, são os movimentos sociais, que sequer compõem os quadros da burocracia federal.
Independente da orientação política do governo da vez, a diplomacia brasileira sempre foi muito eficiente na realização das missões que lhe foram confiadas, o que a tornou reconhecida e respeitada pelo mundo. Caso pudesse agir como de costume, certamente a diplomacia brasileira seria capaz de lidar com o caso Dayan de maneira mais hábil e sutil do que o que vemos hoje: um quadro de estardalhaço e acirramento político que não deve produzir resultados positivos para o Brasil ou Israel.
Já os movimentos sociais em questão, agora expandindo sua área de controle para a política externa, certamente estão tendo seus interesses satisfeitos, pois frequentam agora o noticiário internacional. Enfim, como de costume no Brasil, os ganhos de poucos se dão às custas da perda de muitos.

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