por Paulo Diniz
(publicado na edição de 10/01/2016 de O Tempo - Belo Horizonte, Minas Gerais)
Diferente
da tradição acumulada desde 1822, a atuação brasileira no campo da política
internacional tem sido marcada em anos recentes por rompantes e incoerências. O
caso do momento envolve o Estado de Israel, cujo embaixador nomeado para
representa-lo Brasília vem sendo recusado desde agosto passado, não diretamente
pela administração de Dilma Rousseff, mas por movimentos sociais ligados ao
governo. O motivo da discórdia é a indicação, para chefiar a embaixada de
Israel, de Dani Dayan, que entre 2007 e 2013 presidiu a maior associação de
assentamentos israelenses em territórios ocupados aos palestinos; a comunidade
internacional, em sua maioria, considera ilegal tal colonização e defende a devolução
dessas terras.
Quando
se trata dos assentamentos israelenses, o Brasil faz coro a diversos outros
países em sua crítica ao governo de Israel, o que torna nossa postura política
não só legítima como também comum. O que ultrapassa os limites da lógica,
assim, não é o conteúdo do posicionamento nacional, mas sim a maneira como o
Brasil define e coloca em prática sua política externa. A indicação de Dayan
foi vetada não apenas pela discordância em relação aos assentamentos, mas
principalmente sob a justificativa de que o nome do novo embaixador israelense
foi considerado inaceitável por movimentos sociais como o MST e a CUT. Supondo
que tais organizações tenham apenas se voluntariado para aparecer como
responsáveis pela decisão, a administração de Dilma Rousseff faz má figura na
política internacional: a política externa do governo petista transmitiria a
imagem de fraqueza da presidente, uma vez que essa não teria forças diante da
negativa desses movimentos sociais.
Outra
interpretação possível, que não leva em conta a hipótese da força dos
movimentos sociais, deixa no ar uma pergunta: por quê, então, não poderia a
presidente assumir seus próprios posicionamentos, colocando-os como a vontade
soberana de um governo democraticamente eleito? Mais uma vez, portanto, transmitimos
uma imagem de fraqueza e inconstância, reforçada pelo próprio fato de que quem
mais tem atendido à imprensa, para esclarecer sobre o assunto, são os movimentos
sociais, que sequer compõem os quadros da burocracia federal.
Independente
da orientação política do governo da vez, a diplomacia brasileira sempre foi
muito eficiente na realização das missões que lhe foram confiadas, o que a
tornou reconhecida e respeitada pelo mundo. Caso pudesse agir como de costume,
certamente a diplomacia brasileira seria capaz de lidar com o caso Dayan de
maneira mais hábil e sutil do que o que vemos hoje: um quadro de estardalhaço e
acirramento político que não deve produzir resultados positivos para o Brasil
ou Israel.
Já
os movimentos sociais em questão, agora expandindo sua área de controle para a
política externa, certamente estão tendo seus interesses satisfeitos, pois
frequentam agora o noticiário internacional. Enfim, como de costume no Brasil,
os ganhos de poucos se dão às custas da perda de muitos.
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