por Paulo Diniz
(publicado na edição de 17/01/2015 de O Tempo - Belo Horizonte, Minas Gerais)
Sendo
2016 um ano de eleições municipais, um dos lugares comuns mais recorrentes será
afirmar que os resultados dos pleitos locais serão decisivos para o embate de
2018; nada mais certo. Porém, além desse fator, temos agora uma novidade: a
carência de recursos para as campanhas eleitorais, decorrência da crise
financeira e das restrições de nova legislação eleitoral. Mais do que em
qualquer outro momento, as lideranças políticas federais e estaduais vão
precisar estar presentes no maior número de municípios possível, compensando
com seu carisma pessoal a falta de recursos financeiros; em 2016, essa será a
regra do jogo. Nesse contexto, chama a atenção a postura do senador Aécio
Neves, que dá sinais de não ter compreendido essa mudança de ventos: a julgar
pela forma como vem evoluindo o panorama em Minas, esse erro pode ser
politicamente fatal.
Derrotado
nas eleições de 2014 por uma das menores margens da história republicana, Aécio
se credenciou como uma referência nacional. Hoje mais popular do que Lula, ele
faz bem em ter foco sobre o Brasil como um todo. Porém, para tornar seu
potencial político uma realidade, há muitos obstáculos adiante. O primeiro
deles é o próprio PSDB, na forma de seus bizantinos mecanismos de decisão interna:
em 2014, foi preciso um esforço enorme para que o partido não indicasse, pela
sexta vez consecutiva, um paulista como candidato à Presidência da República.
Mais
importante do que esse desafio, entretanto, existe para Aécio outro, que não só
pode ter efeito sobre seu futuro, como também pode ameaçar sua própria
sobrevivência política: a batalha pela presença nos 853 municípios de Minas
Gerais. Apesar de já figurar na política desde a década de 1980, Aécio apenas
alcançou o destaque atual a partir de suas duas gestões de sucesso como
governador de Minas. Nesse período, foi possível estabelecer contato muito
próximo com os prefeitos mineiros, inclusive com muitos filiados a partidos que
lhe faziam oposição. Essa foi a base da força de Aécio Neves, que lhe deu
impulso para chegar ao protagonismo nacional em 2014. Desde então, as coisas vêm
mudando rapidamente: PT e PMDB dirigem a máquina estadual, com plenas condições
de ajudar na eleição de aliados em centenas de cidades, enquanto o PSB de
Márcio Lacerda vem conquistando aliados de peso pelo interior mineiro.
Longe
do poder estadual e perdendo espaço no interior, Aécio só tem a oferecer sua
presença aos candidatos municipais esse ano; e é urgente que o faça, em doses
maciças. Uma pesquisa rápida em seu site oficial mostra que, em 2015, o senador
não compareceu em nenhuma ocasião a cidades mineiras de importância crucial
como Uberlândia, Varginha, Governador Valadares e Montes Claros. Cada uma
exerce forte liderança política sobre centenas de municípios em suas
respectivas regiões, sendo que essa última é indispensável para se obter bom
desempenho no Norte de Minas: exatamente a área na qual, em 2014, a fraca
votação de Aécio Neves lhe custou o acesso ao Palácio do Planalto.
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