segunda-feira, 25 de janeiro de 2016

O desafio de Aécio

por Paulo Diniz
(publicado na edição de 17/01/2015 de O Tempo - Belo Horizonte, Minas Gerais)

Sendo 2016 um ano de eleições municipais, um dos lugares comuns mais recorrentes será afirmar que os resultados dos pleitos locais serão decisivos para o embate de 2018; nada mais certo. Porém, além desse fator, temos agora uma novidade: a carência de recursos para as campanhas eleitorais, decorrência da crise financeira e das restrições de nova legislação eleitoral. Mais do que em qualquer outro momento, as lideranças políticas federais e estaduais vão precisar estar presentes no maior número de municípios possível, compensando com seu carisma pessoal a falta de recursos financeiros; em 2016, essa será a regra do jogo. Nesse contexto, chama a atenção a postura do senador Aécio Neves, que dá sinais de não ter compreendido essa mudança de ventos: a julgar pela forma como vem evoluindo o panorama em Minas, esse erro pode ser politicamente fatal.
Derrotado nas eleições de 2014 por uma das menores margens da história republicana, Aécio se credenciou como uma referência nacional. Hoje mais popular do que Lula, ele faz bem em ter foco sobre o Brasil como um todo. Porém, para tornar seu potencial político uma realidade, há muitos obstáculos adiante. O primeiro deles é o próprio PSDB, na forma de seus bizantinos mecanismos de decisão interna: em 2014, foi preciso um esforço enorme para que o partido não indicasse, pela sexta vez consecutiva, um paulista como candidato à Presidência da República.
Mais importante do que esse desafio, entretanto, existe para Aécio outro, que não só pode ter efeito sobre seu futuro, como também pode ameaçar sua própria sobrevivência política: a batalha pela presença nos 853 municípios de Minas Gerais. Apesar de já figurar na política desde a década de 1980, Aécio apenas alcançou o destaque atual a partir de suas duas gestões de sucesso como governador de Minas. Nesse período, foi possível estabelecer contato muito próximo com os prefeitos mineiros, inclusive com muitos filiados a partidos que lhe faziam oposição. Essa foi a base da força de Aécio Neves, que lhe deu impulso para chegar ao protagonismo nacional em 2014. Desde então, as coisas vêm mudando rapidamente: PT e PMDB dirigem a máquina estadual, com plenas condições de ajudar na eleição de aliados em centenas de cidades, enquanto o PSB de Márcio Lacerda vem conquistando aliados de peso pelo interior mineiro.
Longe do poder estadual e perdendo espaço no interior, Aécio só tem a oferecer sua presença aos candidatos municipais esse ano; e é urgente que o faça, em doses maciças. Uma pesquisa rápida em seu site oficial mostra que, em 2015, o senador não compareceu em nenhuma ocasião a cidades mineiras de importância crucial como Uberlândia, Varginha, Governador Valadares e Montes Claros. Cada uma exerce forte liderança política sobre centenas de municípios em suas respectivas regiões, sendo que essa última é indispensável para se obter bom desempenho no Norte de Minas: exatamente a área na qual, em 2014, a fraca votação de Aécio Neves lhe custou o acesso ao Palácio do Planalto.

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