por Paulo Diniz
(publicado na edição de 12/07/2015 de O Tempo - Belo Horizonte, Minas Gerais)
Recém
chegada dos Estados Unidos, a presidente Dilma Rousseff embarcou para novo
compromisso no exterior, agora na Rússia. Essa agenda internacional pode
produzir efeitos sobre a conjuntura política nacional, pois afasta Dilma do
desgaste do dia a dia, enquanto mostra a presidente de forma positiva:
representando o Brasil junto aos principais líderes mundiais. Porém, há riscos nessa
movimentação: afastar-se de Brasília deixa todo o espaço disponível para as
correntes políticas se articularem, algo arriscado no contexto atual.
A
teoria política tradicional considera que o principal fator responsável pela
manutenção do poder é a legitimidade. Um governo considerado adequado e justo
pela maioria da população, tanto na forma como chegou ao poder quanto na
maneira com a qual o exerce, tende a se sustentar com base nesse capital
político conquistado. Executivo e Legislativo refletem, cada um à sua forma,
essa mesma relação da sociedade com o poder estabelecido. Os baixos índices de
popularidade de Dilma são um perigoso indicador de perda de legitimidade de seu
governo, porém mais grave é seu enfraquecimento junto ao Legislativo, dominado
por elementos hostis do PMDB.
A
calmaria do cenário político nacional parece esconder articulações intensas. Diante
da impopularidade do governo, e de sua inoperância na construção de alianças,
não faz sentido esperar que a gestão de Dilma Rousseff se sustente por inércia.
O futuro de Dilma pode ser avaliado pela medida na qual as atuais lideranças
políticas encontrem motivos para investir em favor da atual presidente, e não em
sua remoção do poder.
A
começar pelos líderes maiores do PMDB, é importante questionar quais seriam
seus próximos passos a partir da situação atual, na qual estabeleceram um polo
de poder alternativo no Legislativo. Por exemplo, seria razoável prever que o
presidente da Câmara dos Deputados, Eduardo Cunha, após impor várias derrotas
ao governo de Dilma, planejaria apenas repetir essa atuação indefinidamente
pelos próximos anos? Não por acaso, Cunha recentemente defendeu a adoção do
parlamentarismo no Brasil, usando como argumento a facilidade para se substituir
governantes sob esse regime.
A
remoção de um governo no presidencialismo demanda um esforço coletivo de grande
escala, assim como argumentos jurídicos que o justifiquem. É provável que,
atualmente, as lideranças contrárias a Dilma não reúnam todas essas condições,
e por isso, ainda se restrinjam à criação de desgaste no parlamento.
Outro
obstáculo a uma ação contra Dilma pode ser a articulação entre seus vários desafetos:
para além de partes do PMDB, há ainda a oposição formal ao governo, na figura
do PSDB, que poderia se interessar pelo fim do governo petista. Porém, é pouco
provável que qualquer grupo político se lance a uma arriscada empreitada sem
ter definida, desde o início, a quota que lhe será devida dos louros da
vitória. Conciliar tantos interesses e apetites pode ser uma tarefa difícil,
ainda mais do que formar uma coalizão eleitoral.
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