segunda-feira, 6 de julho de 2015

A viagem da oposição

por Paulo Diniz
(publicado na edição de 05/07/2015 de O Tempo - Belo Horizonte, Minas Geras)

A comitiva de senadores brasileiros de oposição que recentemente foi à Venezuela trouxe, na bagagem, alguns pontos importantes para a discussão sobre política externa: a violação flagrante da cláusula democrática dos acordos do Mercosul pela Venezuela, a continuidade desse país na associação regional e, principalmente, a posição omissa do Brasil em relação aos acontecimentos do país vizinho. Isso, porém, teve pouco destaque em relação à repercussão política que a aventura dos senadores brasileiros gerou no cenário nacional.
Planejada, executada e divulgada como uma tentativa de associar a imagem do Governo Dilma à truculência do regime implantado por Hugo Chavez na Venezuela, a expedição dos senadores da oposição brasileira pode ser considerada um sucesso nessa perspectiva. Porém, apesar de ter causado desgaste e constrangimento ao governo, o episódio foi um fracasso no que tange àquilo que se espera de parlamentares cujo ofício é o de fazer oposição ao Governo Federal.
O efeito político obtido foi praticamente nulo, uma vez que a complexidade do tema o torna pouco acessível e interessante à grande parcela da população que conta com poucos anos de educação formal; estatisticamente, o grupo que mais apoia o governo petista. As classes médias brasileiras, tanto a nova quanto a tradicional, que podem ter tido interesse pela jornada dos senadores, já antipatiza o atual governo a ponto de não ter sua opinião alterada pelo episódio em questão.
Em suma, a simples ideia de que essa viagem pudesse ser entendida como “ato de oposição” já ilustra o pouco que o PSDB aprendeu sobre esse ofício nos últimos anos. Desde 2003 os tucanos se orgulham em dizer que não praticam um modelo destrutivo de oposição, característica que atribuem com bastante razão ao comportamento passado petista. Porém, ao invés de desenvolverem uma nova forma de exercer o contraditório, os tucanos simplesmente abdicaram da tarefa.
A complacência que o PSDB mostrou durante o escândalo do mensalão e a inoperância que apresenta hoje, diante da crise na Petrobras, fizeram que o público não tivesse opção efetiva ao PT. Historicamente, o PSDB tem preferido investir nos estados que governa, a travar o duro e diário combate parlamentar. Para evitar o silêncio completo, escolhem um senador para se pronunciar com mais alarde, que acaba agindo sozinho, uma vez que não se registram grandes articulações tucanas no Congresso Nacional nos últimos anos.
O PSDB se dedicou a construir vitrines de gestão pública em estados como Minas Gerais e São Paulo, buscando alavancar a imagem de suas lideranças à condição de “supergestores”: uma estratégia que, mesmo sensata, peca por ser o único caminho concreto desenhado pelo partido.

A política, diziam seus grandes artífices, é a arte da composição; mas raras têm sido as composições tucanas nos últimos anos. Há, portanto, algo muito errado no comportamento de um partido de oposição que não consegue agregar apoios contra o governo mais impopular da história da Nova República.

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