(publicado na edição de 05/07/2015 de O Tempo - Belo Horizonte, Minas Geras)
A
comitiva de senadores brasileiros de oposição que recentemente foi à Venezuela trouxe,
na bagagem, alguns pontos importantes para a discussão sobre política externa:
a violação flagrante da cláusula democrática dos acordos do Mercosul pela
Venezuela, a continuidade desse país na associação regional e, principalmente,
a posição omissa do Brasil em relação aos acontecimentos do país vizinho. Isso,
porém, teve pouco destaque em relação à repercussão política que a aventura dos
senadores brasileiros gerou no cenário nacional.
Planejada,
executada e divulgada como uma tentativa de associar a imagem do Governo Dilma
à truculência do regime implantado por Hugo Chavez na Venezuela, a expedição
dos senadores da oposição brasileira pode ser considerada um sucesso nessa
perspectiva. Porém, apesar de ter causado desgaste e constrangimento ao governo,
o episódio foi um fracasso no que tange àquilo que se espera de parlamentares
cujo ofício é o de fazer oposição ao Governo Federal.
O
efeito político obtido foi praticamente nulo, uma vez que a complexidade do
tema o torna pouco acessível e interessante à grande parcela da população que
conta com poucos anos de educação formal; estatisticamente, o grupo que mais
apoia o governo petista. As classes médias brasileiras, tanto a nova quanto a
tradicional, que podem ter tido interesse pela jornada dos senadores, já
antipatiza o atual governo a ponto de não ter sua opinião alterada pelo
episódio em questão.
Em
suma, a simples ideia de que essa viagem pudesse ser entendida como “ato de oposição”
já ilustra o pouco que o PSDB aprendeu sobre esse ofício nos últimos anos.
Desde 2003 os tucanos se orgulham em dizer que não praticam um modelo
destrutivo de oposição, característica que atribuem com bastante razão ao
comportamento passado petista. Porém, ao invés de desenvolverem uma nova forma
de exercer o contraditório, os tucanos simplesmente abdicaram da tarefa.
A
complacência que o PSDB mostrou durante o escândalo do mensalão e a inoperância
que apresenta hoje, diante da crise na Petrobras, fizeram que o público não tivesse
opção efetiva ao PT. Historicamente, o PSDB tem preferido investir nos estados
que governa, a travar o duro e diário combate parlamentar. Para evitar o silêncio
completo, escolhem um senador para se pronunciar com mais alarde, que acaba
agindo sozinho, uma vez que não se registram grandes articulações tucanas no
Congresso Nacional nos últimos anos.
O
PSDB se dedicou a construir vitrines de gestão pública em estados como Minas
Gerais e São Paulo, buscando alavancar a imagem de suas lideranças à condição
de “supergestores”: uma estratégia que, mesmo sensata, peca por ser o único
caminho concreto desenhado pelo partido.
A
política, diziam seus grandes artífices, é a arte da composição; mas raras têm
sido as composições tucanas nos últimos anos. Há, portanto, algo muito errado
no comportamento de um partido de oposição que não consegue agregar apoios
contra o governo mais impopular da história da Nova República.
Nenhum comentário:
Postar um comentário