terça-feira, 18 de fevereiro de 2014

O desafio da plataforma

por Paulo Diniz
(publicado na edição de 18/02/2014 de O Tempo - Belo Horizonte, Minas Gerais - e do Correio do Sul - Varginha, Minas Gerais)

Após conquistar a duras penas a indicação de seu partido como pré-candidato à Presidência da República, o senador Aécio Neves tem pela frente mais uma árdua batalha: a construção de uma aliança de partidos que dê suporte à sua campanha nacional.
Na democracia brasileira, aquele que obtém o maior número de votos é eleito, independente de outros fatores. Sob esse prisma, Aécio está livre para usar os mais diversos mecanismos para conquistar a preferência da população. Uma estratégia interessante, que já rendeu frutos ao PSDB, consiste em explorar as dissidências informais que existem no conjunto de partidos que hoje apóiam o governo de Dilma Rousseff, fazendo com que lideranças pessoais mobilizem suas bases de apoio em favor da oposição. Trata-se de uma aposta, na qual o político “infiel” não só acredita mais na vitória tucana, como também crê que será recompensado pelo risco que assumiu durante a campanha; esse movimento tende a aumentar na proporção que o risco percebido tende a diminuir, ou seja, os dissidentes governistas avaliam ter grandes chances de ganhar, ou então, acreditam ter pouco a perder. Uma vez que o governo Dilma Rousseff, mesmo contando com quase 40 ministérios, ainda tem mais apoiadores do que cargos comissionados para distribuir, faz sentido estimar que seja considerável o número de lideranças políticas dispostas a trabalhar pela eleição de Aécio Neves, sem que para isso seja preciso abandonar os bastidores do Governo Federal. O PMDB tem tido destaque nesse papel, porém é bem provável que não seja o único a se comportar dessa forma em 2014.
Outro caminho promissor é a montagem de alianças informais nos estados, uma vez que a lei não obriga que os partidos repitam, nesses, a mesma orientação adotada por suas direções nacionais. Parcerias entre o PSDB e candidatos a governador por outros partidos podem render apoios fortes a Aécio em muitos estados, desde que os diretórios estaduais tucanos estejam dispostos a sacrificar suas candidaturas próprias. Em uma grande federação como a brasileira, essas negociações prometem ser complicadas e longas, mas trazem boas perspectivas: são os governadores, até hoje, os principais articuladores com os municípios, o que pode garantir profunda inserção do nome de Aécio pelo interior do Brasil.
Se tais estratégias permitem explorar as fraquezas da coalizão governista, por outro lado não contribuem com a construção de uma aliança formal que sustente a candidatura do PSDB. Essa tarefa ainda se encontra por fazer, uma vez que hoje os tucanos só contam com o apoio do novato Solidariedade e do moribundo Democratas; o pequeno e valente PPS decidiu acompanhar o PSB de Eduardo Campos. Mesmo não sendo capazes de definir o jogo eleitoral, as alianças formais em escala nacional agregam preciosos minutos à propaganda eleitoral, mobilizam estruturas partidárias, além de geralmente fornecerem o candidato a vice na chapa presidencial. Aliás, esse deve ser o próximo grande desafio que aguarda o presidenciável tucano.

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