por Paulo Diniz
(publicado na edição de 04/02/2014 do Correio do Sul - Varginha, Minas Gerais - e do Jornal de Uberaba - Uberaba, Minas Gerais -, na edição de 08/02/2014 de O Tempo - Belo Horizonte, Minas Gerais - na edição de 20/02/2014 da Folha da Manhã - Passos, Minas Gerais - e na edição de 21/02/2014 do Bocaiúva em Notícias - Bocaiúva, Minas Gerais)
O Papa Francisco e a presidente Cristina Kirchner
têm dominado o noticiário internacional nos últimos meses, protagonizando
eventos que atraem a atenção global. Os dois argentinos mais ilustres da
atualidade, quando vistos em perspectiva comparada, nos ajudam a compreender o
complexo país que é a Argentina.
Um século
atrás, a expressão “rico como um argentino” era comum na França, e indicava o poder
aquisitivo dos visitantes austrais. O crescimento econômico da Argentina
aconteceu a partir do final do século XIX, quando os produtos desse país
encontraram os ávidos mercados do hemisfério norte. A carne e os cereais desse
país geraram renda para financiar a grandiosidade de Buenos Aires, que encanta
cerca de um milhão de turistas brasileiros a cada ano, mas também construiu uma
sólida base cultural, capaz de produzir cinco prêmios Nobel. Ainda hoje, um
índice de analfabetismo de apenas 1,9%, o segundo maior IDH da América do Sul e
o 45º maior do mundo – ranking no qual o Brasil ocupa, respectivamente, a 6ª e
a 85ª posições – são suficientes para mostrar que a Argentina guarda bons
frutos de seu passado.
Décadas de
instabilidade política, entretanto, abalaram a riqueza econômica nacional. Em
comum com ditadores e democratas que a antecederam, a presidente argentina
compartilha o populismo, forma de se fazer política baseada na relação pessoal
entre governante e governados. A imposição da figura do governante é constante,
a ponto de impedir que se criem ligações significativas entre a população e as instituições
políticas. Pesquisas apontam que o populismo costuma ter força sobre as
populações mais carentes, porém a culta Argentina subverte a regra: Cristina
vem há anos governando mais para manter sua imagem política, do que para
melhorar a gestão do país. Por exemplo, controla o cálculo do índice de
inflação desde 2007, anunciando números agradáveis aos ouvidos, mas distantes da
realidade. O resultado é hoje um país em colapso econômico, marcado por falta
de energia e distúrbios civis. O público que aplaudiu Cristina Kirchner e suas
medidas por anos, hoje retira seu apoio, à espera do próximo personagem heroico
que se disponha a salvar a pátria.
Francisco
conduz a maior instituição religiosa do mundo, enfrentando questões que vinham
sendo ignoradas há décadas; porém, seu comportamento é suave e despojado, o que
contribui para recuperar a popularidade da Igreja Católica. Francisco tem
mostrado, assim, algumas da melhores características do argentino: o destemor
do imigrante, pronto a enfrentar desafios, e a leveza das civilizações do Novo
Mundo.
Cristina buscou
culpados no exterior para suas agruras internas, conquistando a indiferença do
Brasil e a pior crise da história com o Uruguai. Já Francisco veio ao Brasil em
2013 de braços abertos, buscando companheiros para a caminhada que iniciava;
conseguiu reunir 3,6 milhões de pessoas no mesmo local, além de ganhar respeito
e admiração de todo o mundo. Ele representa, assim, tudo o que a Argentina
poderia ser.
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