quinta-feira, 24 de maio de 2012

Dilma e os prefeitos

por Paulo Diniz
(publicado edição de 24/05/2012 da Tribuna de Minas - Juiz de Fora, Minas Gerais)

A Presidente Dilma Rousseff tem atingido, a cada pesquisa de opinião, níveis de popularidade inéditos na história recente. A comparação com seus antecessores é inevitável, e amplamente favorável à atual comandante. Entretanto, a sonora vaia recebida pela Presidente durante um encontro nacional de prefeitos constitui lembrete de que popularidade não é sinônimo de habilidade política e, mais importante, de que há problemas estruturais na federação brasileira que seguem sem solução.
          Comparada com Lula e Fernando Henrique, no que se refere à capacidade de conciliar interesses e construir apoios que viabilizam os objetivos do governo, Dilma apresenta desvantagem evidente. A imagem que ilustra isso é a da careta que a Presidente estampou quando foi questionada pelos prefeitos sobre a divisão dos royalties do petróleo, agravada pelo azedume da resposta proferida; mesmo os neófitos em política brasileira sabem que, nessa seara, os prefeitos ocupam papel de destaque como angariadores de apoio, e desprezá-los representa um grave erro.
Quando se considera o pleito dos prefeitos, motivador da vaia que tirou das manchetes a “CPI do Cachoeira”, é preciso considera-lo como mais do que uma simples demanda por recursos, típica de um evento político. A federação brasileira é historicamente marcada pelo desequilíbrio na distribuição final dos recursos fiscais: em 2010, a esfera federal ficou com 57,0% do montante arrecadado em todo o país, ao passo que os municípios receberam – incluídas transferências – apenas 18,3%. Por outro lado, o principal responsável pela oferta direta de serviços aos cidadãos é a instância municipal, em cumprimento do princípio da descentralização das políticas públicas, ponto central da Constituição de 1988.
Esse grave dilema vem sendo equacionado, também desde o final da década de 1980, através da estruturação de sistemas nacionais de políticas públicas, cujo exemplo mais completo é o do Sistema Único de Saúde (SUS): o município presta os serviços à população, de acordo com regulamentos federais detalhados, sendo custeado para tanto pelo Governo Federal. O poder, assim, emana de Brasília de forma nítida, pois o espaço de ação das prefeituras é limitado pelo financiamento que essas recebem; não há qualquer impedimento legal para que os governos locais desenvolvam formas de ação autônomas, porém, são poucas as cidades capazes de custeá-las.
Quando os prefeitos brasileiros reivindicam uma parcela maior da riqueza gerada pelo petróleo do pré-sal, o que fazem é pedir por um pouco mais de autonomia no atendimento a suas populações, um alívio na rotina de execução padronizada dos programas federais. Com certeza, os sentimentos de Dilma Rousseff diante da pressão municipalista devem ter sido os mesmos experimentados por outros presidentes brasileiros no passado, porém nada justifica a impaciência e a rispidez com as quais a Presidente tratou os mandatários municipais brasileiros. Sem dúvida, no contexto de uma democracia federativa como a brasileira, Dilma fez por merecer a vaia.

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