domingo, 6 de maio de 2012

Cachoeira e as eleições municipais

(publicado na edição de 03/05/2012 do Correio do Sul - Varginha, Minas Gerais)


A aprovação da CPMI dedicada à investigação do bicheiro goiano Carlinhos Cachoeira tem ocupado boa parte do noticiário das últimas semanas. As especulações sobre o futuro de tal empreitada, entretanto, são diversas: vão desde a expectativa da repetição do enredo de CPIs do passado recente – muita agitação inicial e poucos resultados finais – até a certeza de que se produzirá algo da magnitude da renúncia do Presidente Collor de Mello. Analisar os componentes da atual conjuntura é, assim, uma tarefa indispensável para que se possa calibrar as expectativas de muitos, e as esperanças de outros tantos.
Inicialmente, é preciso destacar uma característica incomum da nova CPMI: sua criação foi desejada por várias correntes políticas, tanto do governo quanto da oposição. Esse desejo tem origem em uma crença, disseminada entre muitas lideranças, de que há fortes possibilidades de ganhos políticos a partir dos resultados das investigações. Configura-se um ímpeto coletivo de busca por fatos e nomes suspeitos, que tem tudo para se tornar incontrolável pelos interesses de correntes políticas específicas, mesmo que essas ocupem Presidência e Relatoria da Comissão. Com tanto furor investigativo no ar, a CPMI deve se desenvolver com a dinâmica própria do fogo no mato seco.
Nesse contexto, desempenha papel crucial o fator regional: com atividades espalhadas de norte a sul do Brasil, Carlinhos Cachoeira pode se tornar um elemento decisivo em várias eleições municipais. A descoberta de ligações com o bicheiro, a poucos meses do pleito, pode ferir mortalmente candidaturas até agora tidas como imbatíveis; encontrar todas as pontas soltas dos negócios escusos de Cachoeira tende a se transformar em uma verdadeira “caça ao tesouro” para muitos políticos brasileiros. Por enquanto, o mais ruidoso exemplo foi dado pelo deputado federal Anthony Garotinho, ao divulgar um vídeo no qual aparecem jantando um suposto sócio de Carlinhos Cachoeira e o atual governador fluminense, Sérgio Cabral. Por si só, as imagens nada provam, mas têm potencial para produzir um impacto colossal sobre o julgamento que o eleitor faz das figuras públicas retratadas, refletindo diretamente na base de apoio de Cabral em seu estado.
A corrida por “trunfos eleitorais” desse tipo pode afastar a CPMI de qualquer tipo de controle: a tentação da desobediência aos comandos partidários pode ser forte demais, assim como a prática dos “vazamentos” de informações sigilosas pode se mostrar muito conveniente. É nas eleições municipais que os deputados e senadores consolidam suas bases de apoio locais, indispensáveis para o pleito de 2014. Nesse sentido, interesses locais passam a ter influência maior do que a coerência e a disciplina partidárias: para muitos políticos, trata-se da escolha entre obter benefícios imediatos em suas regiões de atuação, ou trabalhar pelas recompensas um tanto genéricas que podem derivar de uma aliança partidária nacional. Com tantos personagens e interesses envolvidos, a única previsão segura é a de muita instabilidade.

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