A aprovação da
CPMI dedicada à investigação do bicheiro goiano Carlinhos Cachoeira tem ocupado
boa parte do noticiário das últimas semanas. As especulações sobre o futuro de
tal empreitada, entretanto, são diversas: vão desde a expectativa da repetição
do enredo de CPIs do passado recente – muita agitação inicial e poucos
resultados finais – até a certeza de que se produzirá algo da magnitude da
renúncia do Presidente Collor de Mello. Analisar os componentes da atual
conjuntura é, assim, uma tarefa indispensável para que se possa calibrar as expectativas
de muitos, e as esperanças de outros tantos.
Inicialmente,
é preciso destacar uma característica incomum da nova CPMI: sua criação foi
desejada por várias correntes políticas, tanto do governo quanto da oposição.
Esse desejo tem origem em uma crença, disseminada entre muitas lideranças, de
que há fortes possibilidades de ganhos políticos a partir dos resultados das
investigações. Configura-se um ímpeto coletivo de busca por fatos e nomes
suspeitos, que tem tudo para se tornar incontrolável pelos interesses de
correntes políticas específicas, mesmo que essas ocupem Presidência e Relatoria
da Comissão. Com tanto furor investigativo no ar, a CPMI deve se desenvolver
com a dinâmica própria do fogo no mato seco.
Nesse
contexto, desempenha papel crucial o fator regional: com atividades espalhadas
de norte a sul do Brasil, Carlinhos Cachoeira pode se tornar um elemento
decisivo em várias eleições municipais. A descoberta de ligações com o
bicheiro, a poucos meses do pleito, pode ferir mortalmente candidaturas até
agora tidas como imbatíveis; encontrar todas as pontas soltas dos negócios
escusos de Cachoeira tende a se transformar em uma verdadeira “caça ao tesouro”
para muitos políticos brasileiros. Por enquanto, o mais ruidoso exemplo foi
dado pelo deputado federal Anthony Garotinho, ao divulgar um vídeo no qual aparecem
jantando um suposto sócio de Carlinhos Cachoeira e o atual governador
fluminense, Sérgio Cabral. Por si só, as imagens nada provam, mas têm potencial
para produzir um impacto colossal sobre o julgamento que o eleitor faz das
figuras públicas retratadas, refletindo diretamente na base de apoio de Cabral
em seu estado.
A corrida por
“trunfos eleitorais” desse tipo pode afastar a CPMI de qualquer tipo de
controle: a tentação da desobediência aos comandos partidários pode ser forte
demais, assim como a prática dos “vazamentos” de informações sigilosas pode se
mostrar muito conveniente. É nas eleições municipais que os deputados e
senadores consolidam suas bases de apoio locais, indispensáveis para o pleito
de 2014. Nesse sentido, interesses locais passam a ter influência maior do que
a coerência e a disciplina partidárias: para muitos políticos, trata-se da
escolha entre obter benefícios imediatos em suas regiões de atuação, ou
trabalhar pelas recompensas um tanto genéricas que podem derivar de uma aliança
partidária nacional. Com tantos personagens e interesses envolvidos, a única
previsão segura é a de muita instabilidade.
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