sábado, 29 de julho de 2023

Placebo contra a ansiedade

 por Paulo Ricardo Diniz Filho

publicado na edição de 25/07/2023 de O Tempo - Belo Horizonte, Minas Gerais


Os conceitos de presente e de futuro se tornaram bem confusos na modernidade ultra-acelerada na qual vivemos. Planejamento, previdência, provisionamento e ansiedade nervosa se fundiram em um bloco só – que atingiu em cheio a mais humana das atividades, a política.

Há pouco mais de dois meses, nessa coluna, apontei que a campanha eleitoral de 2024 para a Prefeitura de Belo Horizonte já tinha nomes, grupos e uma dinâmica própria em andamento – como se já estivessem próximas as convenções partidárias. Carlos Viana e Bruno Engler polarizavam o quadro, enquanto Duda Salabert e Gabriel Azevedo testavam posturas eleitorais de quando em vez.

Com esses quatro nomes em voga, já havia personagens e conteúdo suficiente para uma grande trama eleitoral. O futuro, então, havia sido antecipado e começava a acontecer.

Porém, o futuro virou passado em poucas semanas, e agora se desenha um quadro bem mais complexo na disputa pelo comando da capital mineira – não só pela quantidade de personagens que surgiram, como também pela densidade política desses novos nomes.

Fuad Noman, atual prefeito de Belo Horizonte, vinha se mantendo em um grau de discrição que beirava a apatia política, mesmo enquanto outros já cobiçavam abertamente sua posição. Era razoável pensar, até mesmo, que Noman não deveria disputar a reeleição – afinal, o comandante da máquina pública precisa de muito pouco para se manter em evidência, e ainda assim, o atual prefeito pouco fazia para se mostrar. Agora, esse quadro mudou, e Fuad se tornou figura fácil nos meios de comunicação. Mais do que isso, passou a falar como protagonista de propostas e soluções para a cidade – um requisito indispensável para quem pretende passar pelo teste das urnas.

Outro nome que ressurgiu com força é o de João Leite, que conta com três campanhas municipais anteriores como reforço natural de sua imagem. Derrotado no segundo turno em 2000 e em 2016, João Leite já mostrou ser capaz de ganhar muitos votos e de incorporar as esperanças dos eleitores – peca pela falta de algum detalhe, nos momentos finais da disputa. Em um ambiente político já desgastado pelos extremismos, o perfil sóbrio de Leite pode ser exatamente o que procura o belorizontino em 2024.

Por fim, chama atenção a movimentação virtual intensa que assumiu o ex-vice-governador Paulo Brant, agora filiado ao PSB. Caso siga no ritmo atual, Brant terá estrutura partidária e um histórico de equilíbrio político a seu favor, o que pode ser valioso se a rejeição ao extremismo político tiver peso em 2024.

Com sete postulantes viáveis, a disputa pela Prefeitura de Belo Horizonte se tornou imprevisível. Para cada corrente ou estilo político, haveria no mínimo dois candidatos dividindo o mesmo espaço – isso, para não mencionar o usual conflito entre perfis distintos. A quantidade de variáveis em jogo é tamanha, que qualquer prognóstico que se faça hoje não passa de placebo contra a ansiedade.

Um novo futuro se desenhou, sem dar chance para que as previsões anteriores se concretizassem.

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