por Paulo Diniz
(publicado na edição de 03/04/2016 de O Tempo - Belo Horizonte, Minas Gerais)
Em
sua rica história política, Minas Gerais contou com a contribuição de todas as
suas regiões para compor um conjunto de estadistas incomparável: Diamantina foi
berço de Juscelino Kubitschek, enquanto a vizinha Bocaiuva produziu José Maria
Alkmin, símbolo da habilidade dos políticos mineiros. São João del Rei foi
berço de Tancredo Neves; já Barbacena deu origem ao clã dos Andradas, dinastia
que articulou da Independência à Revolução de 1930. A Zona da Mata contribuiu
com figuras que marcaram a história nacional: os presidentes Artur Bernardes e
Itamar Franco, respectivamente de Viçosa e Juiz de Fora.
A
cidade de Oliveira, no Centro Oeste, tem como seu filho mais famoso Eliseu
Resende, que apesar de prolífica carreira, não compõe o time citado acima.
Porém, o que parece encaminhar essa cidade para a história política é seu povo:
a imprensa nacional acompanha com atenção a mobilização popular em Oliveira, contrária
a um projeto de lei que propunha aumentar o salário dos vereadores do
município, em plena crise fiscal. Com direito a altos e baixos, a presença
popular na Câmara foi capaz não apenas de conter a ganância os edis locais,
como também colocou em pauta propostas de redução do salário dos vereadores,
uma delas para o nível do salário mínimo nacional, inédita no país.
Essa
ação coletiva representa a soma de vários fatores, como o poder das redes
sociais, a íntima relação que envolve o povo e seus representantes em cidades
menores, assim como a maior disposição dos vereadores em ouvir as ruas quando
há eleições por perto.
Como
o caso ainda não teve seu desfecho, é preciso dotá-lo de certa perspectiva.
Inicialmente, o tema da remuneração dos parlamentares merece visão mais serena:
necessariamente, a redução drástica dos salários dos vereadores tende a afastar
da política as pessoas que dependem do próprio trabalho para sobreviver, não
podendo se dedicar à função pública voluntariamente. A tendência, a longo
prazo, seria a de tornar a política uma atividade restrita às elites
econômicas, reduzindo a representatividade da sociedade nas esferas de poder.
Na prática, retornaríamos à doutrina que predominou até o século XIX, que vinculava
a participação política à posse de certo nível de bens materiais; sem dúvida,
seria um grande atraso em nossa democracia.
Outro
ponto crucial a ser considerado é a indispensável transposição do ímpeto cívico
da população para o âmbito da política formal. Por paradoxal que pareça,
somente quando o povo assumir a posição daqueles que criticou, os vereadores, é
que poderá ser vislumbrada uma mudança significativa na estrutura política da
cidade. Os protestos massivos de 2013 servem de exemplo de que a mera revolta
não deixa frutos se não conseguir tirar de cena os “culpados de sempre”.
Portanto, para marcar definitivamente seu nome da história política mineira, o
povo de Oliveira deve mostrar nas urnas uma renovação radical nos quadros do
Legislativo municipal: eleger a si mesmo, por meio das novas lideranças que
surgem.
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