por Paulo Diniz
(publicado na edição de 18/04/2013 do Tempo - Belo Horizonte, Minas Gerais -, na edição de 13/04/2013 do Correio do Sul - Varginha, Minas Gerais - e na edição de 07/08/2013 do Jornal de Uberaba - Uberaba, Minas Gerais)
O noticiário
político nacional tem pontuado, recentemente, alguns dos contratempos que
marcam o processo de criação do novo partido de Marina Silva, a Rede Solidária.
Além da dificuldade em reunir as assinaturas necessárias, a questão financeira
chama a atenção, já que a inexistência de cadastro junto às instâncias
fazendárias impede a captação de recursos. Tais problemas não estão relacionados
unicamente com dificuldades operacionais, mas principalmente, com as propostas
centrais que inspiram essa nova empreitada política.
Os quase 20
milhões de votos obtidos por Marina Silva em 2010 são clara mostra de seu
potencial eleitoral. Porém, erra quem interpreta tais números como um endosso à
pessoa da ex-senadora acreana. Marina obteve sucesso não por ser quem é, mas
por quem poderia vir a ser: acendeu fortes esperanças de renovação do cenário
político, ao mesmo tempo que se mostrava capaz de dialogar com empresários e se
movimentar pelo ambiente político. Dessa forma, o lançamento da Rede
Sustentável constitui retrocesso no caminho de Marina: se em 2010 foi vista
como uma alternativa realista de renovação, as propostas que inspiram a Rede
retiram o realismo da equação.
Inicialmente,
a idéia de se apresentar como um "não-partido" pode, em uma análise
superficial, soar agradável aos ouvidos populares, especialmente devido ao desgaste
que atinge o sistema partidário nacional. Porém, apenas negar a realidade, sem
apresentar opções viáveis constitui um grave erro. Por exemplo, a rejeição ao
sistema de financiamento partidário é valida, porém contar principalmente com
pequenas doações de eleitores significa investir em uma ferramenta que
fracassou em 2010. É justamente por não acreditar na forma como é feita a
política hoje que o eleitor dificilmente irá ajudar a financiá-la: assim, a
Rede depende de uma solução que não existe, pois o próprio partido visa a
construí-la no futuro.
Também a fórmula
de se criar novo partido guarda pequenas chances de gerar resultados
positivos: por configurar uma das poucas exceções à regra da fidelidade
partidária, as novas agremiações tendem a atrair descontentes e oportunistas de
todos os matizes. Como irá a Rede impedir tal invasão de seu espaço por um
grande número de políticos pragmáticos, uma vez que o novo partido inaugura
justamente o conceito de militância livre? Difícil evitar o desvirtuamento dos
ideais da Rede, sobretudo por parte dos políticos que podem vir a cobiçar para
si uma fatia da popularidade de Marina Silva.
É bom lembrar,
nesse contexto, que a política é o espaço da discussão, da negociação, da
convivência com os opostos e da busca pelo consenso. As propostas que animam o partido
de Marina Silva, marcadas pela abundância de proibições e restrições à atuação
de seus membros, não apontam na direção do diálogo. Em uma perspectiva global,
a Rede Solidária parece ter surgido para dar sustentação aos sonhos, nos quais
se refugiam seus fundadores para pontificar sobre uma pureza moral excludente e
isolacionista.
O nome do partido é Rede Sustentabilidade.
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