por Paulo Diniz
(publicado nas edições de 05/09/2012 do Jornal de Uberaba - Uberaba, Minas Gerais - e do Correio do Sul - Varginha, Minas Gerais)
A Presidente Dilma Rousseff
foi surpreendida, recentemente, ao saber que seu governo havia chegado a um
acordo com o Congresso a respeito da redação final do novo Código Florestal.
Atônita, Dilma trocou bilhetes durante um evento com suas ministras do Meio
Ambiente e das Relações Institucionais, buscando mais informações e, logo após,
discursou desautorizando toda e qualquer decisão tomada em seu nome. Prosaico,
esse episódio representa o resultado do movimento “Veta, Dilma!”, que mobilizou
a sociedade civil brasileira nos meses de abril e maio para levar a Presidente
a se opor ao texto do Código Florestal já aprovado pelo Congresso.
Hoje, os
poderes Executivo e Legislativo continuam a medir forças em torno do polêmico
assunto da preservação ambiental, que voltou a despertar pouca atenção na
sociedade desde que retornou para o campo dos deputados e senadores. Na
verdade, essa indiferença não é geral: os grupos interessados na aprovação de
uma legislação ambiental mais permissiva se movimentam intensamente para
influenciar os debates no Congresso, fazendo valer na prática o conceito de
“democracia representativa” que temos institucionalizado no Brasil. A grande
parte da população não se envolve mais, contente apenas por ter forçado a chefe
máxima do Executivo a dizer um sonoro “não” à lei aprovada pelos parlamentares
e devolvendo a esses mesmos, logo em seguida, a responsabilidade de rediscutir
a questão.
A preferência
do brasileiro pelo Poder Executivo é histórica e fartamente estudada pelos
sociólogos e cientistas políticos nacionais. Porém, a perpetuação desse padrão
de comportamento tem gerado distorções graves na democracia brasileira,
sobretudo na forma como essa capta e reproduz os interesses populares; essa
função não cabe, primordialmente, ao Presidente da República, mas sim a de
colocar em prática – de forma eficiente – as decisões tomadas pela
coletividade, através dos legisladores que a representam.
Apesar de
louvável, por ter rompido a inércia popular, o movimento “Veta, Dilma!” partiu
dessa lógica equivocada, que sobrevaloriza o Poder Executivo. Assim, levou a
sociedade a participar da discussão tarde demais e, mesmo assim, foi voltado
apenas para a negação de uma proposta já elaborada anteriormente; ao invés de
construir opções de ação, programou-se apenas para as destruir.
Mirando o
Legislativo, e mais do que isso, concentrando suas atenções sobre o seleto
grupo de parlamentares responsável pela condução dos trabalhos, a mobilização
popular teria contribuído para produzir uma proposta melhor, além de injetar um
novo ânimo sobre os debates do Congresso Nacional. Dessa forma, não teríamos
hoje a triste surpresa de ver o futuro ambiental brasileiro ser discutido
através de bilhetinhos trocados em segredo.
É sempre bom
lembrar que os direitos políticos são construídos com a prática constante, cujo
lugar privilegiado é o Poder Legislativo. Um futuro mais promissor pode começar
em outubro próximo, a depender das escolhas dos eleitores para as Câmaras
Municipais e, principalmente, da forma como iremos nos relacionar com nossos representantes
durante os próximos quatro anos.
Nenhum comentário:
Postar um comentário